O Automobilismo Virtual surgiu quando um grupo de amigos, em algum lugar do mundo, resolveu disputar uma corrida em jogo de corrida qualquer. A simulação é consequência disso.

Nós que vivemos o universo do Automobilismo Virtual já temos naturalmente associado as corridas virtuais à simulação. Mas será que realmente é assim que funciona?

Sem querer ser chato, mas não é assim que funciona. Por maior que seja o esforço para aproximar as corridas online da simulação de uma corrida real, ainda existem certas limitações. E algumas delas talvez jamais sejam rompidas, como é o caso da simulação da Força G aplicada ao piloto.

Dessa forma, a comunidade tem um consenso que divide os jogos de corrida entre arcades (sem qualquer compromisso com a realidade), realistas (que reproduzem a realidade com alguma liberdade criativa) e os simuladores (que tentam se aproximar ao máximo da realidade). O Automobilismo Virtual não é um e-sport praticado apenas com simuladores. Desde que haja regras, tecnicamente qualquer jogo de corrida pode servir de plataforma para a prática de Automobilismo Virtual.

 

Mas por que não?

Se tecnicamente Automobilismo Virtual pode ser praticado por qualquer jogo de corrida, por que adotamos os simuladores como a plataforma mais adequada?

A resposta parece óbvia, mas não é.  Em 1957, em seu livro Les Jeux et les Hommes (Os Jogos e os Homens), o sociólogo francês Roger Caillois classificou natureza social dos jogos. Dentre suas definições, duas nos são mais importantes: agôn, o jogo competitivo, e alea, os jogos de sorte.

Um e-sport é um jogo competitivo no qual os competidores devem ter as mesmas oportunidades (agôn), mas com alguma possibilidade de acasos (alea). Jogos de corrida arcades e realistas, frente aos simuladores, possuem um script sem randomizações que retira qualquer possibilidade de acaso. Do outro lado, os simuladores, na tentativa de se aproximar da realidade, tem margem para o acaso e variações que tornam o jogo o palco perfeito para um e-sport.

Palco perfeito, pois nos pontos que são possíveis reproduzir no simulador (vácuo, física dos pneus, mudanças climáticas, danos e desgastes) há variações que, associado à técnica do piloto virtual, abre uma gama gigante de possibilidades e estratégias que tornam a corrida uma verdadeira incógnita. Por outro lado, a limitação com relação à dinâmica de pista, simulação de desgastes de equipamento quase linear (no caso, desgaste mecânico do carro no ambiente simulado) e outros detalhes, tornam as corridas virtuais praticamente uma corrida em condições ideais.

 

E até onde vale a pena simular o real?

Podemos afirmar que o Automobilismo Virtual é, de certa forma, uma vertente do Automobilismo. Reproduzindo as principais características do esporte a motor, mas com a acessibilidade de uma atividade de lazer, o Automobilismo Virtual proporciona aos amantes da velocidade competição e entretenimento a baixo custo, se comparado com as corridas reais.

Diferentemente do que se possa imaginar, corrida virtual online não é apenas um game multiplayer. É praticamente uma modalidade a parte, com regras e dinâmicas próprias. Mas tão apaixonante quanto a sua inspiração.

E vendo que o Automobilismo real, dominado pelos altos investimentos, tem se tornado cada vez mais tecnológico, estratégico, frio e calculista, não vemos que a simulação ultra hardcore seja o melhor caminho para o nosso e-sport. No estágio que estamos hoje nos simuladores, com suas deficiências e limitações, temos o ambiente perfeito para corridas empolgantes, para um e-sport em ascensão.

Querer se aproximar do real agora seria tornar as corridas virtuais tão desanimadoras como as reais tem sido na maioria dos casos.

Então, se você quer ter um desafio maior e saber se realmente seria um piloto habilidoso, a simulação hardcore é o seu lugar. Mas em termos de e-sport e para o bem da comunidade, vamos manter a simulação só até onde é interessante para as corridas perfeitas.

Por Andrei Fonseca