A Telemetria registra dados de performance do carro que podem ser representados graficamente e analisados em softwares como o MoTeC. Estes dados podem ser úteis para o setup do carro e também ser usados para comparar o desempenho de voltas diferentes, de pilotos diferentes, ajudando na melhoria da técnica de condução.

As gravações de dados começam quando o carro sai dos boxes. Uma volta de dados registrados é gravada quando o carro cruza a linha de largada/chegada ou entra novamente nos boxes.

Você pode abrir diversas voltas e sobrepôr os dados para fazer as análises. Basicamente cada gráfico no MoTeC representa um canal de valores monitorados. Por exemplo, temperatura do óleo do motor tem um canal de monitoramento. E dependendo do layout do projeto do MoTeC, este canal pode ser visualizado de formas diferentes, como gráfico em barra, gráfico em linha, escala de número, etc.

Quando o piloto identifica um ponto específico na telemetria, ele pode intercalar as páginas no MoTeC e ver tudo que aconteceu simultaneamente àquele instante, inclusive sua posição física na pista. Ou então, ele pode selecionar voltas sequenciais e analisar a evolução dos parâmetros ao longo das voltas, muito útil para análise do comportamento dos pneus.

O objetivo é identificar medições importantes, como médias, valores máximos, valores mínimos e o momento que tais valores acontecem, para que, associado ao conhecimento de setup, o piloto virtual possa decidir qual melhor ajuste a se fazer no carro. Por exemplo, olhando o gráfico de altura do carro, o piloto percebeu que em um determinado trecho da pista, a altura fica negativa (o que significa que o carro bateu o fundo violentamente contra o asfalto). Então ele decide aumentar a altura do carro e para isso ele tem algumas formas de fazer, como endurecer a suspensão, diminuir a cambagem ou o caster ou simplesmente aumentar a altura diretamente. Qual o melhor ajuste a se fazer neste caso? Depende do interesse do piloto, pois ele pode preferir aumentar a altura diretamente, sem alterar a rigidez da suspensão, tornando o carro mais lento de reta e menos responsivo em curva, mas podendo saltar sobre as zebras sem problema. Não existe receita, até porque como já falado, há infinitas variáveis antes de chegar ao ajuste do carro em si.

Então, agora que já sabemos que os dados do MoTeC são separados em canais e estes canais tem valores máximos, mínimos e médias, vamos dar uma passada geral nos principais canais disponibilizados pelos simuladores que podem ser lidos na telemetria.

Aceleração

Indica o quanto o carro está ganhando ou perdendo velocidade em cada momento da volta. Importante para comparar entradas e saídas de curvas importantes da volta.

Altura do Chassi (em cada roda)

A altura do percurso mede a distância entre o chão do carro e o chão. Quando o carro está se movimentando em linha reta, o dois traços de roda traseira devem ser virtualmente idênticos um ao outro. As duas rodas dianteiras traços também devem ser virtualmente idênticos aos entre si. Quando o carro contorna uma curva, a parte de baixo do carro oposto à curva fica mais próximo do solo em relação ao outro lado.

Então, por exemplo, se o carro contorna uma curva à direita, o lado esquerdo do carro tende a ficar mais baixo e o lado direito mais alto.

É possível examinar o quão baixo o carro fica enquanto se movimenta pelo circuito. Isto é normalmente uma boa prática para garantir que o carro é o mais baixo possível sem o assoalho esfregar no chão. Examinando o altura do carro, você pode decidir quais ajustes possíveis é necessário fazer.

Por exemplo, se a altura mínima do chassi for 25 mm acima do solo no seu ponto mais baixo (provavelmente uma sequência rápida de curvas) então, considerando que em um determinado carro de Formula uma prancha de 10 mm embaixo do assoalho, significa que você pode diminuir a altura do chassi em 15 mm antes da prancha começar a esfregar no chão. Esta é uma ligeira explicação, mas o princípio é importante.

A prancha está localizada no meio do carro e não na frente. este significa que a prancha pode estar fora do chão se a frente estiver a menos de 10 mm da terra. Isso se deve ao ângulo de inclinação do carro, em inglês, rake angle. Ou seja, o ângulo de inclinação pode ser maior no traseira do carro do que na frente. O mesmo é verdadeiro para o ângulo de rotação. Um lado do carro pode mergulho abaixo de 10 mm.

Finalmente inspeção da prancha produzirá o veredicto final. No entanto, você pode fazer julgamentos sensatos usando o log de altura do chassi.

Nota: Quando o carro está em movimento, o melhor resultados da força descendente altura de passeio o mais baixo possível. É importante no entanto, que a altura do percurso traseiro é definida como certa altura acima da altura do passeio dianteiro.

Bateria

Com o uso cada vez mais comum de motores híbridos, os simuladores mais recentes já simulam a gestão de energia das baterias. Este item é importante para analisar como foi feita a gestão de energia durante a volta, de maneira que o piloto guarde recurso para o momento da volta que mais precisar.

Círculo de Tração

Ilustra a dinâmica do deslocamento do centro de gravidade do carro a cada momento da volta. Também um bom parâmetro comparativo do resultado entre diferentes setups em uma determinada curva.

Consumo de Combustível

Com motores cada vez mais eficiente, os regulamentos limitam cada vez mais o uso de combustível. Isso gera um compromisso de gestão de combustível que o piloto deve considerar para ter recurso para acelerar quando realmente for importante.

Curso de suspensão (em cada roda)

O curso da suspensão é útil para o segundo nível de configuração na medida em que ajuda a identificar qual tipo de batente você precisa para manter o assoalho do carro longe do asfalto. O log representa movimento de suspensão em relação a qualquer batente que você configurou. Portanto, se você está em um ponto no circuito com o menor valor de altura e depois verifica que há suspensão disponível na mesma parte, isso indica a profundidade de batente adicional necessário para remover o restante curso de suspensão. Então, com efeito, nessa parte da volta, o carro estará atuando sobre os batentes.

Diferentemente do seu carro de passeio, no qual você quer que os itens durem o máximo possível e te dê o máximo de conforto, no Automobilismo peças foram feitas para serem usadas ao extremo. Portanto, o objetivo é sempre usar o curso total da suspensão até “dar no batente” literalmente. Terão situações que o carro ficará com reações lentas demais e você poderá optar por usar mais batentes e menos suspensão. Terão outras situações que o carro ficará duro demais mesmo sem batente algum. E aí não há muito o que fazer. O que não pode acontecer é ter curso de suspensão sobrando sem necessidade.

Com os batentes, se por exemplo você reduz a altura do carro em 3 mm, outros 3 mm de batente são necessários para manter o assoalho longe do asfalto na pior parte da volta,ou seja, onde o percurso a altura é mais baixa.

Dados de Clima

Em simuladores que há variação climática, é importante considerar o efeito do ambiente no resultado do setup.

Dados por Micro-Setores

Os expectadores estão acostumados em ver os circuitos serem divididos em 3 parciais de tempo. Porém, para os pilotos, a volta é toda segmentada, curva a curva, reta a reta. Assim fica mais fácil identificar, em comparativo de voltas, exatamente em qual curva ou reta se está ganhando o perdendo tempo.

Comandos (Direção, Marcha, Acelerador e Freio)

Um dos primeiros dados analisados por um piloto novo é o input nos comandos. Quanto de acelerador foi acionado, quanto de freio foi usado, quanto o volante girou. Tudo isso é importante comparar na hora de aprimorar o traçado na pista e a tocada do carro.

O mostrador de marcha mostra quando há uma troca de marcha. Às vezes isso pode explicar picos em outros gráficos como das mudanças do centro de gravidade.

O log do acelerador pode ser interessante quando comparando voltas para ver qual nível de aceleração durante uma curva produz o melhor resultado. O valor do acelerador pode ser útil principalmente ao avaliar o giro de roda.

O freio pode ser de interesse quando comparando voltas para ver quais pontos de frenagem produz o melhor resultado.

Um sinal de que uma alteração na configuração foi bem sucedida é se o log de freio, em um comparativo de um “antes” e “depois”, demonstre que você foi capaz de frear o menos possível e o mais tarde possível carregando o máximo de velocidade para dentro da curva, contornando este micro-setor o mais rápido possível.

Giro de Roda

Este parâmetro mostra a velocidade que a roda gira. Quando andando em linha reta, o carro tem as quatro rodas girando na mesma velocidade. Quando em curva, as rodas, devido ao diferencial, giram em velocidades diferentes. E quando essa diferença é desproporcional à curva, gera desgaste do equipamento ou dificuldade de contorno.

O giro de roda pode ocorrer quando o carro está em baixa velocidade ou nas marchas mais lentas e há uma grande aceleração. Se a roda traseira interna gira demais no contorno de uma curva, pode ser uma perda de tração e você deve observar também se houve muita aceleração aplicada necessitando suavizar a suspensão traseira.

Um sinal de que uma alteração na configuração foi bem sucedida é se o log do acelerador, em um comparativo de um “antes” e “depois”, demonstre que você conseguiu acelerar mais cedo ou teve um nível mais alto de aceleração em uma curva.

A velocidade de giro da roda é mostrada no log. Se a roda estiver com aderência, sem escorregar, em velocidade compatível com o carro, tudo ok. Você perceberá que quando o carro está em uma curva, as rodas externas giram mais em uma velocidade maior do que as rodas internas, gerando mais calor e desgaste nos pneus externos. Isso pode ser ajustado nas regulagens de diferencial ou analisado em comparação com a técnica de pilotagem em outra volta.

Esse log também pode ser útil ao avaliar a tração em um circuito irregular ou em curvas em geral. Isso pode indicar a necessidade de suavizar a suspensão na parte traseira do carro.

Motor

O coração do carro é monitorado para se extrair o máximo de performance. Por isso, o piloto tem que saber, principalmente, as temperaturas de água e óleo, o RPM do motor (para certificar que não está trocando marcha cedo ou tarde demais).

O RPM mostra como você fez uso do motor em relação às marchas. Você também pode ver quando atinge a limitação de rotações, ou seja, quando as rotações estão no seu ponto mais alto e o gráfico do log de velocidade fica plano em vez de escalado, indicando que o carro deixou de ganhar velocidade por limitação do motor.

O log de velocidade permite analisar sua velocidade em qualquer ponto da volta. Pode ser particularmente útil quando comparando voltas,  especialmente nos micro-trechos onde se tem o tempo melhor que o outro piloto ou outra volta registrada. Usado em combinação com direção, freio, acelerador, RPM e marchas, você pode descobrir quais técnicas de direção produzem os melhores resultados. Se você estiver ajustando a configuração do carro, o log de velocidade  pode mostrar em qual seção do circuito o carro é o mais rápido. Também pode mostrar onde estão as curvas mais rápidas.

Pneus

Os pneus são responsáveis por boa parte da performance do piloto. Saber usar todo o recurso (borracha) disponível é o grande desafio do automobilismo moderno. Para alguns os pneus acabam cedo demais, para outros, o pneu sobra depois da bandeira quadriculada. Por isso, é importante monitorar a pressão e as temperaturas internas, do meio e externas da faixa de rolagem dos pneus.

Normalmente os pilotos dão uma sequencia longa de voltas para identificar o momento que a pressão do pneu se estabiliza e por quanto tempo ela se mantem estabilizada, para assim projetar estratégias de uso dos pneus e também determinar o quão agressivos serão os ajustes de cambagem e convergência, de maneira a usar a borracha inteira durante a prova. Sabendo que o pneu estabiliza a pressão em um determinado valor, o piloto pode antecipar ou atrasar esta estabilização em função do seu objetivo (volta rápida ou prova longa) saindo dos boxes com mais ou menos pressão nos pneus.

É comum ver os pilotos virtuais fazerem voltas rápidas com os pneus murchos. Porém, dependendo do circuito, a volta pode ser longa demais e um pneu muito murcho chega ao último trecho da volta superaquecido, tendo bem menos aderência, exatamente onde pode se ter curvas importantes. E isso pode explicar porque o piloto não consegue uma boa volta rápida. Como sempre falamos, não existe receita pronta. É tentativa, erro e dados catalogados.

Suspensão

O ajuste de suspensão é o que diferencia um piloto virtual bom de um piloto virtual experiente. Assim como os pneus, onde se busca usar toda a borracha, na suspensão, o objetivo é usar todo o curso de molas e amortecedores, mas sem deixar o carro com reações lentas demais, com tendência de rolar ou flutuar em uma mudança de direção.

Para isso, monitorar os pontos de máxima e mínima compressão (rápida e lenta) dos amortecedores, assim como os pontos de máxima e mínima compressão das molas, considerando o comportamento percebido pelo piloto,  são importantes para determinar a altura do carro e o uso de batentes ou não no conjunto.

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