Na última etapa da Formula 1 ocorrida em Suzuka (Japão), aconteceu um incidente semelhante ao que vitimou o jovem Jules Bianchi em 2015. Imediatamente todos acusaram a Direção de Prova de negligência por deixar repetir um cenário de grande risco. Entretanto poucos observaram a verdadeira dinâmica da situação, o que deixa claro que em gestão de riscos nem sempre há um culpado.

Quem acompanha a Formula 1 sabe como as equipes, na busca pela vantagem competitiva, conduzem suas posições de maneira a não prejudicarem a performance. Com isso, algumas regras existem para proteger a vantagem conquistada (um termo muito usado no automobilismo europeu). Uma destas é a possibilidade dos pilotos pararem nos boxes em período de suspensão da disputa em pista com intervenção do Safety Car. Essa possibilidade gera uma situação que a intervenção do Safety Car seja menos eficiente, uma vez que os carros tendem a ficar para trás durante essa passagem pelos boxes, o que contribuiu como um dos fatores para este incidente.

Outro fator foi a degradação da visibilidade de pista durante o procedimento de largada em um grid formado por carros com novos conceitos aerodinâmicos. Tinha-se o conhecimento que os novos carros foram construídos para expulsar para cima o fluxo de ar, mas nunca foi experimentado correr com estes carros naquela condição. Sendo assim, a falta de visibilidade, apesar de esperada, foi muito maior do que a prevista. Algo que poderia ser evitada com a utilização de carros F2 ou F3 na condução dos testes de condição que hoje são feitos pelo Safety/Medical Car.

Foi preciso quase uma volta completa para que a Direção de Prova assimilasse que a pista não tinha as condições mínimas para este tipo de carro sequer iniciar a prova. Somado ao fato de um carro acidentado em situação perigosa, iniciou-se corretamente o procedimento de intervenção com Safety Car que rapidamente escalou para Suspensão da Corrida com o acionamento da Bandeira Vermelha.

E numa infeliz sequência de coincidências, Gasly que estava para trás, passou por um trator que estava ativo na pista para resgate da Ferrari de Sainz.

Poderia ser evitado? Claramente sim. Mas há de se deixar claro que todos seguiram os protocolos, que agora se mostram ineficientes em situações extremas. Estes procedimentos devem ser sim melhorados, mas a esta altura não devemos buscar culpados. Devemos aprender e melhorar para evitar que este incidente se repita e gere riscos desnecessários.

Tomara que a FIA observe e aprenda com isso. Este procedimento foi criticado em Monza devido a demora no resgate da McLaren de Ricciardo (que gerou uma corrida sendo finalizada em Bandeira Amarela) e agora gerou uma situação de risco. Ou seja, está claro que algo precisa ser melhorado. É assim que aprendemos na gestão de riscos.