O Automobilista 2 é um progresso para o Automobilismo Virtual? Testamos o novo simulador da Reiza Studios, em sua versão 1.0 e, do ponto de vista de Direção de Prova, temos algumas impressões positivas e outras nem tanto.

 

Alinhando no grid no Automobilista 2

Antes de começar a análise, uma contextualização: Todos que acompanham o nosso trabalho, sabem que o nosso foco é tornar o Automobilismo Virtual um e-sport relevante, assim como Counter-Strike, League of Legends, FIFA, etc.

Por isso, por vezes, abrimos mão de nos aproximar do Automobilismo real (que todos sempre criticaram por estar cada vez mais monótono, previsível e sem público). Não faz muito sentido querer simular algo que já sabemos que será desinteressante, a não ser para desafios particulares, como pilotar na chuva torrencial, com pneu slick, mas sem adversários no mesmo nível.

Por isso, nunca fomos simpatizantes de fazer eventos 100% tal como os reais. Analisamos se aquela disputa virtual, em formato alternativo ao real, seria interessante para quem participa e para quem acompanha. Se sim, fazemos. Se senão, deixamos de lado. E desta forma, procuramos fazer corridas mais curtas, com carros em condições iguais e com alguma regra que pudesse ajudar a misturar cada vez mais o grid (inversão do grid, lastro para os líderes, bandeiras amarelas programadas, etc).

 

Bandeira verde ao ar!

Agora que está claro que nossa visão não é se o Automobilista 2 é ou não um bom simulador, mas sim uma boa plataforma para o Automobilismo Virtual enquanto e-sport, vamos aos pontos principais.

 

Física

Já é sabido que o Automobilista 2 é construído utilizando a Madness Engine, a mesma por trás do Project Cars 2, que é taxado como game realístico (aquele tipo de jogo de corrida que tem compromisso com a realidade até certo ponto). No início, isso foi visto com desconfiança pela Comunidade, uma vez que a Reiza Studios vinha fazendo um ótimo trabalho usando a isiMotor2 da ISI e parecia que migraria para a isiMotor2.5, que empurra o rFactor 2, um dos simuladores mais elogiados em termos de física simulada. Tanto que o rFactor 2 foi o escolhido pela FIA para realizar as 24 horas de Le Mans Virtual este ano com os melhores pilotos virtuais do mundo juntamente com grandes nomes do Automobilismo real.

Porém, a Comunidade deu um voto de confiança à Reiza Studios, uma vez que eles mostraram que são capazes de extrapolar as expectativas explorando ao máximo todas as funcionalidades da engine do jogo. Afinal, quem olha o Automobilista 1 não imagina que ele usa a mesma fonte do rFactor 1, lançado uma década antes.

Neste ponto, temos uma física que tende a ser simulação, mas com um pé nas reações realísticas do Project Cars 2. Não deixa de ser uma evolução em relação ao Project Cars 2, mas não chega a ser precisa como no rFactor 2 ou Assetto Corsa Competizione. E isso é muito bom para o Automobilismo Virtual, pois torna o jogo acessível, em um bom nível técnico e que proporcionará corridas virtuais empolgantes, mas não totalmente irreais.

 

Gráficos

Talvez este tenha sido o principal fator que fez a Reiza optar seguir a trilha do Project Cars 2 e não do rFactor 2. O gráfico atualizado tem sido um diferencial comercial importante nos títulos de automobilismo mais novos. Muitos novos jogadores são mais atraídos pelo gráfico fotográfico de Gran Turismo, Forza, Project Cars e Assetto Corsa Competizione do que os realísticos do iRacing, rFactor 2 e RaceRoom.

Nesse ponto, não há o que reclamar. O Automobilista 2 é bonito e tem todos os elementos que podem fazer diferença na corrida, como spray de água, reflexos de luz, poeira, fumaça, etc. Se estes elementos são mais fotográficos ou realísticos, do ponto de vista competitivo, pouco importa. Afinal, temos FPS que apostam em gráficos mais desenhados como o Valorant e outros que são mais realísticos como o Counter-Strike.

Trata-se de um gosto pessoal e neste ponto, a maioria da Comunidade concorda que um gráfico atualizado é importante.

 

Som

Um dos primeiros esforços da Reiza na confecção de conteúdos para os antecessores ao Automobilista 2 foi a captação de som. E todos sabemos que um bom som ajuda a ambientar e melhorar a imersão na simulação. Outro item que não podemos reclamar, pois é muito bem feito, é o trabalho de sonoplastia. E assim como os elementos gráficos, todos os elementos sonoros que podem fazer diferença na corrida também estão lá. Novamente, se é real ou não, do ponto de vista competitivo pouco importa.

Ainda não é algo próximo ao estado de arte do Assetto Corsa Competizione ou Raceroom, existe sim espaço para melhorias, mas temos um avanço se considerado ao antecessor.

 

Danos

Este é um ponto que torna o Automobilista 2 algo mais próximo dos Simuladores do que os Arcades. Existem danos, existem desgastes e eles estão em um nível equilibrado com a realidade, mas são desenhados pensado na competição.

Neste ponto, temos uma ressalva. Pensando nas corridas virtuais como espetáculos de e-sport, os motores são mais elásticos, os freios e pneus são mais previsíveis e outras questões são diferentes do real. E isso torna uma corrida de verdade um exercício complexo de engenharia, mas no ambiente virtual é ignorado até certo ponto, de forma tolerável, afinal não estamos focados em simuladores de treinamento profissional, mas sim uma plataforma de competição atraente para pilotos e espectadores. Em outras palavras, foco na habilidade visível do piloto, não nas habilidades cognitivas do engenheiro.

 

Clima

Este é outro ponto importante que falta em muitos simuladores. Nascer já com esta funcionalidade é um ingrediente interessante que a Comunidade sempre demandou. Se a reação é real ou não é outra questão.

Mas em termos competitivos, este é o ponto de equilíbrio de fatores que pode alternar as forças numa corrida, tornando as corridas menos previsíveis do que vemos no real. Um ponto que se bem explorado pela Comunidade, pode tornar o Automobilismo Virtual um e-sport empolgante.

 

Conteúdo

Se o que deu sobrevida ao rFactor e ao Automobilista (e dá ao Counter-Strike, por exemplo) foi a abertura para receber conteúdos da Comunidade, no Automobilista 2 não teremos isso. Tem seus pontos positivos, como por exemplo um patamar de qualidade de carros e pistas, mas também limita o número de opções de competições possíveis.

Existe uma boa quantidade de opções, apesar de quase todas serem atualizações do que já se tinha no seu antecessor, mas novos conteúdos são esperados. Estratégia que vemos em outros e-sports como League of Legends e DotA 2 e também no iRacing.

Ambas as receitas funcionam. E do ponto de vista competitivo, não temos nenhuma opinião relevante.

 

Bandeira Amarela no 3º Setor!

Multiplayer do Automobilista 2

Aqui temos o principal item para tornar o Automobilismo Virtual um e-Sport. Um sistema de multiplayer acessível e robusto é requisito mínimo. E neste ponto, as primeiras impressões não são tão animadoras.

Direto ao ponto, faltam recursos amigáveis voltados para Organização, Transmissão e Direção de Prova.

Para quem assiste a corrida como espectador, o comportamento do carro no virtual é estranho, com guinadas repentinas para corrigir a rota do veículo em curva (possível resquício de uma mecânica de jogo voltado para joysticks) e o contato com o asfalto com aspecto artificial.

Como responsável pela parte esportiva de uma corrida virtual, sabemos que automações demais são complicadores para uma corrida justa. E como Organizador, uma interface amigável para configuração de servidor é sempre útil.

Automobilismo é um esporte com regras subjetivas e complexas. Se não tiver algo didático para contextualizar a ação para quem assiste e sem ferramentas de moderação adequadas, o evento torna-se desinteressante.

 

Conclusão sobre o Automobilista 2

Então? O Automobilista 2 é uma boa plataforma para o Automobilismo Virtual? Em linhas gerais, sim! Tem uma física não tão complexa como iRacing, Assetto Corsa Competizione ou rFactor 2, mas exige noções básicas de pilotagem e desportividade de quem se propõe a competir nele.

Podemos afirmar que será uma boa porta de entrada para quem quer ingressar na Comunidade. Mas ainda necessita de polir algumas arestas.

Esperamos que a Reiza Studios não cometa o mesmo erro de outros estúdios, que se focam em lançar novos conteúdos invés de consolidar o material já existente em bases robustas, capazes de atender um e-sport que clama por uma oportunidade para ir para o próximo estágio.

Para quem quiser conhecer mais sobre o Automobilista 2, acompanhe o Fórum Oficial da desenvolvedora.