É possível começar do zero no simulador e se tornar um piloto profissional no Automobilismo Virtual ou até mesmo no real? Sim! E pode não ser tão difícil quanto parece.

 

Qual a principal característica de um piloto de Automobilismo Virtual?

Para você, qual a resposta da pergunta acima? Se você respondeu que é performance e resultado, você está cometendo o mesmo erro da maioria da Comunidade que olha o Automobilismo do ponto de vista do torcedor.

Quem acompanha o Automobilismo a fundo sabe que, em um grid de 20 pilotos, obviamente apenas 1 será vencedor. 95% do grid, na visão do brasileiro, será perdedor. É diferente do futebol ou volei, em uma disputa entre 2 equipes, ou do tênis, em uma disputa entre 2 tenistas. Nestes casos, 50% dos competidores perdem. Uma porcentagem bem menor.

Se nestas modalidades como futebol, volei e tênis você tem o argumento do “quase vencedor”, no Automobilismo, quem chega em 2º as vezes não tem qualquer chance. Imagina quem está fora do pódio, do Top 5, Top 10, fora da zona de pontuação. E como todos estes continuam correndo se não tem performance competitiva (independente se estamos falando de técnica ou infraestrutura)?

Jenson Button

Simples. A principal característica de um piloto é a mesma de qualquer atleta. Afinal, antes de pilotar, o piloto é um atleta. E como tal, sua principal característica é a sua imagem. Se sua imagem é associada à performance, ótimo. Mas se sua imagem é associada a conduta exemplar, ótimo também. E se você associa sua imagem a simpatia e comunicação, temos ótimas notícias.

 

Há quem discorde…

Claro que nem todo mundo vai concordar que a imagem é a principal característica de qualquer atleta. Mas vamos aos exemplos:

Fernando Alonso, bi-campeão da Formula 1. Indiscutivelmente um dos melhores pilotos da sua geração. Se não fosse a dificuldade de relacionamento nas equipes, quem não gostaria de ter um piloto com o nível de performance dele no time? Nem por isso as portas ficaram abertas para ele na F1 por muito tempo.

Rubens Barrichello, 326 GPs e nenhum título na Formula 1. Sempre teve oportunidades à disposição na F1, mesmo sempre sendo taxado como segundo piloto das equipes que passou.

Recentemente tivemos exemplos de pilotos que perderam oportunidades em sua carreiras profissionais por conduta fora das pistas: Daniel Abt, Bubba Wallace, Kyle Larson e Bia Figueiredo.

Fernando Alonso

É natural que nós, enquanto torcedores, só darmos importância à performance e resultado. Afinal, como dizem, brasileiro não gosta de competir. Ele gosta de ganhar. Bastou não termos condições de ganhar na F1 e a categoria deixou de ser interessante? Complicado…

Não observamos no Futebol que sempre tem aquele atleta que dá o sangue pelo time, mas nunca marcou um gol. Ou aquele tenista, como Fernando Meligeni, que sempre está na mídia por se posicionar em assuntos polêmicos.

E lembre-se: O que mantem um grid é sua imagem. O que mantem um campeão é sua performance. São coisas diferentes.

Ou seja, performance serve de nada sem controle.

 

Qual é o caminho para ser um piloto virtual profissional no Automobilismo Virtual?

O primeiro passo é se focar em uma plataforma que tenha frequência de eventos (sejam oficiais da desenvolvedora ou privados de ligas ou grandes marcas). Não necessariamente precisa ser um simulador hardcore, afinal o que torna você um atleta virtual não é seu potencial de performance no real e sim sua imagem, lembra?

24 Horas de Le Mans Virtual

Uma vez escolhida a plataforma, vem a construção de sua imagem, seja ela qual for. Para isso, produção de conteúdo (ser uma espécie de influenciador digital) é a forma mais eficaz. Algumas soluções, como Lives e Gameplays, demandam certo investimento, mas todas exigem dedicação e foco. Sem isso, nada funciona.

E o principal: participar ativamente da Comunidade. E participar não é somente treinar, chegar no briefing do evento, correr, dar entrevista e ir embora. Divulgar onde vai correr, qual sua expectativa, compartilhar seu resultado (bom ou não), falar sobre os próximos passos e eventos. Isso é participar.

Não precisa compartilhar seus segredos técnicos, mas se fizer isso e realmente for algo que ajude a Comunidade, esta será uma das formas de construir uma base de fãs.

Depois de construída esta imagem, aí podemos pensar em Performance. E performance não significa só ganhar. Fazer parte de um grid seleto já é um grande feito. Claro, quanto melhor os resultados, maior a visibilidade. E se sua imagem estiver alinhada com o que se espera de um atleta, as chances de surgirem patrocinadores e investidores aumenta exponencialmente.

 

E do Virtual para o Real?

Não temos nenhum caso concreto ainda, mas alguns pilotos virtuais estão começando a despontar no cenário do Automobilismo Virtual no Brasil e no Mundo. E alguns até com pequenas oportunidades no real depois de alguns anos de carreira no rFactor 2 e iRacing. Até mesmo no Gran Turismo Sport.

Vale lembrar que todos os casos até agora, o piloto já tinha uma bagagem do real (kart e outras categorias de base) e utilizou o simulador para ficar em evidência no mercado.

Igor Fraga

Sempre vão lembrar do Igor Fraga. Então já vai um esclarecimento: Fraga competiu no Kart na Ásia desde os 3 anos de idade, por influência do avô e do pai. E desde cedo usa o Gran Turismo como ferramenta de treinamento para aprimorar o foco na pilotagem. Só recentemente, depois de já ter competido inclusive na F3 Brasil e na Formula Regional Europeia que o Gran Turismo serviu para colocar Fraga na mídia. Inclusive em entrevista recente dele, ele comentou que Helmut Marko desconhecia sua trajetória no Virtual ao chamá-lo para o programa de pilotos da Red Bull.

Atualmente, uma equipe vai preferir arriscar seu dinheiro em quem tem experiência e performance comprovada no kart do que no simulador. A não ser que o piloto com origem no simulador tenha um diferencial mercadológico relevante. Qual é esse diferencial? Exatamente… Imagem.

 

Última reflexão

Recentemente tivemos as 24 Horas de Le Mans Virtual, com toda a infraestrutura da FIA, WEC, ISI e de grandes marcas e equipes envolvidas. Sem dúvida, o maior evento de Automobilismo Virtual até o momento.

E mesmo neste evento, vimos problemas técnicos que ocasionaram 2 bandeiras vermelhas e o reinício do servidor (quem conhece o rFactor 2 já até imagina o que aconteceu). O polêmico Alonso e sua equipe com Barrichello inclusive já estava fora da prova por uma mistura de erro humano com limitação do simulador. E nem por isso vimos eles reclamando abertamente do simulador ou da organização do evento. E olha que eles tinham muita razão de reclamar, afinal o aporte de patrocínio que eles receberam teria ido por água abaixo.

Da mesma forma, nos últimos dias tivemos também o evento teste da Stock Car com o recém-lançado e totalmente cru Automobilista 2 contando apenas com pilotos do grid da categoria. E como acontece com jogos muitos novos, problemas surgiram. E da mesma forma, nenhum atleta do grid criticou o simulador ou a organização.

500 Milhas de Indianapolis Virtual

Estes são 2 exemplos para vocês que correm no Automobilismo Virtual que abandonam a corrida/campeonato pela metade e vão xingar muito no Twitter do adversário que bateu, ou do simulador que bugou ou da Organização que falhou. Claro que não precisa guardar pra si toda esta frustração. Mas expôr isso queima também sua imagem. Sem contar os DNFs omitidos da sua “carreira virtual”.

Portanto, da próxima vez, se o seu foco é levar a sério o Automobilismo Virtual, pense em reclamar diretamente com a Desenvolvedora ou a Organização. Assim sua imagem fica preservada e ajuda a construir uma Comunidade mais madura.

 

Ah, se você não assistiu as 24 Horas de Le Mans Virtual, assista abaixo. Um verdadeiro show de Automobilismo Virtual!